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O ARQUEÓLOGO

O passado não é somente feito de história, mas de ruína. E não são poucos os vestígios espalhados ao redor do globo de antigas civilizações que, frente ao calendário das es-tações, sucumbiram há milênios, deixando para trás resquícios de um passado que, mesmo reduzido a um fragmento de osso, a um pedaço de cerâmica ou a uma oxidada moeda, insiste em ser rememorado. Enquanto a poeira e a terra são peneiradas pelos arqueólogos nos sítios de escavação, pequenos fragmentos voltam a narrar a história dos antigos povos que habitaram a terra, ao passo que suas grandes edificações, outrora imponentes, evidenciam tanto o apogeu quanto a queda de suas civilizações. Para fazer história, é preciso ter uma história para contar. Para deixar constância na memória dos homens, é preciso deixar algo para ser lembrado. É aqui onde entra a Arqueolo-gia. Mas para saber onde essa história começou, que não seja por meio de imagens, livros ou documentários, é preciso viajar, a fim de romper com aquela velha ignorância que nos faz ver o mundo como o queremos, como o idealizamos, e não como ele é ou simples-mente pode ser. Em outras palavras, é preciso pôr o pé na estrada, e no caso dos sítios arqueológicos, pôr o pé, literalmente, no pó.


Nos últimos anos parti em busca de vestígios deixados por antigas civilizações, como um viajante, antes um andante, um deambulante, não como um arqueólogo ou fotógrafo. Pois o que mais importa numa viagem é o viajante. Lembrava-me sempre de um velho provérbio chinês que dizia que uma longa viagem devia começar com um passo, e a iniciei justamente no altiplano boliviano, em Tiahuanaco, a mítica cidade ancestral dos povos andinos. Depois disso, a cada passo dado, mundos inteiros passaram a se desvelar, mun-dos que antes se encontravam imóveis nas páginas dos livros e das enciclopédias que lia. Em viagem pelos cinco continentes, visitei mais de 100 sítios arqueológicos, das mais diversas culturas, desde a tiahuanaco, moche, nazca, chimú, inca, maia, zapoteca, olmeca, azteca, nas Américas, passando pela etrusca, egípcia, grega, romana, bizantina, na Eu-ropa, pelas culturas mesopotâmica, fenícia, hitita, neolítica, dos nabateus e hebreus, na África e Ásia Menor, e culminando na cultura rapa-nui, da Ilha de Páscoa, na Oceania. Em pouco mais de cinco anos, 12 mil anos de história se desvelaram ante meus olhos, pois não há enciclopédia melhor que um bilhete de viagem nas mãos, um GPS melhor que um mapa de banca de jornal, e uma mochila repleta de etiquetas de viagem nas costas.


Para compartir as impressões dessas viagens atemporais, elaborei este site de fotogra-fias, O arQueólogo, que reúne uma série de álbuns de sítios e museus arqueológicos es-palhados pelo mundo, além de fotos artísticas em p&b. Templos, pirâmides, zigurates, muralhas, necrópoles, tumbas, aquedutos, anfiteatros, galerias, afrescos, mosaicos, estelas, estátuas, múmias, esqueletos, cerâmicas, geoglifos, petroglifos, hieroglifos. Antes que fotografias, que requerem todo um aparato técnico, essas imagens são registros de viagem, impressões visuais mnemônicas, imagens do passado refletidas no presente, em suma, um modo de entender o mundo para compreender melhor a si mesmo. E mesmo que uma viagem seja uma sucessão de irreparáveis desaparições, de lugares que prova-velmente nunca mais serão vistos, viajar, num sentido mais profundo, para não dizer anímico ou espiritual, é como nascer e morrer a todo o instante, é deixar de ser provin-ciano à janela do seu quarto esperando o trem das 25hs passar para colocar-se em movimento, pelo mundo afora, pois o mundo não gira se não nos movimentamos.



Boa viagem sem fronteiras através dos tempos! 



Gleiton Lentz





p.s. minhas lembranças a Farzaneh Radmehr, Roger Sulis e Thalita Schuh, eternos

companheiros de viagem, e a todos aqueles que eventualmente estiveram

comigo em algum dos sítios elencados. 

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